quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Diário de uma pequinês

Esse texto eu recebi da nossa amiga Gigi, como ele é muito lindo decidi compartilhar com todos

DIÁRIO DE UMA PEQUINÊS

Hoje tá tudo muito diferente, apesar de estar bem quentinho e aconchegante e eu e meus irmãozinhos estarmos aninhados um com outro há uma estranha agitação, de minutos há minutos tem um certo reboliço que sacode tudo, sabe parece tem alguma coisa nos empurrando ou puxando.
De repente um dos meus irmãozinhos sumiu e depois outro e mais outro, aí chegou a minha vez, tava morrendo de medo. Por mais que eu quisesse ficar quietinha no meu lugar, alguma coisa me empurrava e parecia que eu tava descendo, num momento eu cai e bati meu bumbum num local duro e estranho.
Num outro instante algo molhado começou a correr no meu corpo, não conseguia ver direito, ainda não sabia o que eram e pra que serviam os meu olhinhos, mas as coisas foram melhorando, eu via uma sombras, uns contornos e depois eu vi algo peludo que me lambia, não sei porque mais parecia ser bom e sem eu perceber meu rabinho se levantou e eu gostei disso.
Passado algum tempo um gigante de roupa branca, me pegou amarrou um negocio no rabinho que saia da minha barriga e cortou, doeu um pouco, assim ele me separou da daquele ser peludo que me lambia e que depois eu soube que era minha mãe. Ele me botou num lugar jogou água em mim, diferente da água que eu tava antes, pois era bem fria. Depois ele derramou algo em mim que fazia muita espuma, e invadiu as minhas narinas tão forte que eu não sabia dizer o que era, o gigante veio com algo grande e preto e apontou para mim e sai um vento quente que me arrepiava os pelos.
O gigante me carregou de volta pra minha mãezinha e todos os meus irmãozinhos estavam com mesmo cheiro forte que invadiu as minhas narinas, me arrumei entre eles e comecei a mamar na mamãe um leitinho gostoso e quente. Assim, os dias se passavam e eu brincava, mamava e dormia, até que um dia recebemos a visita da mãe da nossa mãezinha trazida por outro gigante. Ela era parecida com a mãezinha, só que mais velha e forte, gostei dela logo de cara, meus irmãozinhos continuaram a brincar, ela me cheirou e me lambeu e eu fiquei feliz e meu rabinho balançou.E ela começou a falar comigo:
Olá pequenina, sou sua avó
Oi, vó!
Você sabia que nós viemos da nobreza?
Como assim?
Você é uma pequinês, somos descendentes dos cães dos Imperadores da grandiosa China.
O que é China?
É um grande país, um dos mais antigos e maiores países do nosso planeta.
O que é planeta?
O que é país?
Criança isso aprenderás depois, bem, reza a lenda que um dia um leão se apaixonou por uma alegre, jovial e peralta macaca e queria se casar com ela, mas os dois eram de espécies diferentes, por isso não poderiam se casar.
O que é espécie?
O que é casar?
Humm, criança!!!
Desculpa vó.
O leão procurou a Buda e sendo impossível o casamento Buda criou o pequinês, altivo e forte como o leão e alegre e peralta como a macaca. Outra lenda diz que o pequinês surgiu da paixão do leão pela borboleta.
Quem é o gigante?
Ele é aquele que eu escolhi.
Como assim, não entendo?
Nós cães vivemos em bando e devemos escolher um líder para nos proteger, suprir e nós guiar. Só que, o engraçado é que eles pensam que nós escolhem.
Agora eu entendi.
Criança tenho que ir.
Tchau vóóóó!
Bem, foi assim que eu nasci, já tô com quarenta e cinco dias, já corro e pulo sem cair e não paro de pensar em quando escolherei meu gigante, dois dos meus irmãozinhos já escolheram seus gigantes e foram com eles.Tava uma tarde preguiçosa, tava deitadinha, ainda que meio dormindo, ainda podia sentir o cheirinho de uva, da caixinha que eu dormia, quando chegou o gordinho. Ele olhava pra mim e para o meu outro irmão que brincava no jardim.Ele falou assim:Primo, eu vou levar comigo aquele que me escolher, vai ser uma surpresa para os meninos, agora que a casa vai ser maior eles vão poder tem cachorro.
Neste instante tive certeza que este gordinho era o meu gigante, levantei da caixinha, e meu rabinho começou a se balançar, ele me carregou no seu braço e como chovia ele me aninhou no seu braço e abriu um guarda-chuva e me cobriu da chuva. Fiquei com medo de cair no chão e de um mundo de sons e barulhos da rua até chegarmos na casa do gordinho, quer dizer a minha casa.
Era tanta gente em volta de mim, me carregando de um lado pra outro, me cheirando, me beijando, que eu já não tava entendendo nada e já tava ficando brabinha. Quando eles se acalmaram eu pude ver uma menina de cachinhos, um menino de óculos e uma moça bonita que sorria com covinhas e me pegava com muito amor.Já me esperavam com uma caminha redonda e macia e uma vasilha de água e uma vasilha de comida, ração molhada com leite, provei e gostei. De repente eles começaram a discutir como me chamariam, ora eu já tenho um nome que é criança.O menino de óculos era o que mais falava. Ele disse:
Scarlett?
Não, disse a menina de cachinhos Madonna?
Não, disse a moça bonita das covinhas
Leeloo, disse o menino de óculos. Aí ele começou a disser esse nome era de um filme o Quinto Elemento e que este nome representava o amor, que para haver vida se faz necessário quatro elementos: ar, terra, fogo e água. Mas, que a vida sem o amor não significa nada e que este era o quinto elemento e como eles eram quatro eu seria o quinto membro da família.
Aí, eles omeçaram a falar:Leeloo, Leeloo, Leeloo!
Gente, como eu achei linda essa história, eu escolhi esse nome e meu rabinho balançou e fiquei alegre. Quase não usei minha caminha, esperávamos o gordinho e a moça bonita de covinhas dormirem. Eu, a menina de cachinhos e o menino de óculos dormíamos juntos. Tempos depois, mudamos de casa, dormia um pouquinho com o menino de óculos e um pouco com a menina de cachinhos.
Os anos foram se passando e um dia o gordinho saiu e não voltou mais pra casa. Algum tempo depois a moça bonita de covinhas também saiu e nunca mais voltou.Um dia o moço de óculos começou a trazer em casa a moça bonita sem covinhas, no início eu não gostava dela, porque ela beijava e abraçava o menino de óculos e eu ficava com ciúmes. Eu gostava dela, sabe ela me fazia bastante dengo, até demais, mas eu tinha que manter a moral, aí eu rosnava e fazia que ia morder só pra assustar ela. Era divertido, porque ela acreditava nisso. A menina de cachinhos se mudou e a moça bonita sem covinhas veio morar com a gente, o bacana é que a menina de cachinhos vem me ver sempre e a gente brinca sempre.
Já tinha esquecido da poodle chata que eles um dia adotaram, a bicha foi abandonada e eles trouxeram pra morar aqui, já pensou se ela tivesse alguma doença. Ela é um grude e não larga do meu pé, eles chamam ela de Vivi, de Vivian Leigh; coitada dela ela jura que tá com toda essa bola.
Bem, escrevi tudo isso pra dizer que meu nome é Leeloo, sou uma pequinês de 12 anos, 06 meses e 07 dias e que tó dodói, tenho câncer de mama. Quero dizer para o menino de óculos que tem aguentado firme e fico triste quando ele chora. Não tenho tido fome e ele tem me alimentado com a seringuinha do remédio, tenho tomado o remedinho direitinho, mesmo os de gosto ruim. Só quero dizer para o menino de óculos, pra menina de cachinhos e pra moça bonita sem covinhas que quando eu tiver muito cansadinha eu vou ter que ir embora. E como a borboleta da lenda vou voar para o céu!
Só que o menino de óculos é muito forte, ele acha que não tá no momento de voar para o céu, sabe ele é tão forte quanto eu e eu acho que ele também é descendente do leão. Ele me levou para um outro reino, um reino onde outros animaizinhos doentinhos são cuidados por príncipes e princesas de branco. O príncipe de branco disse que eu tinha piometra, depois de alguns exames, isso é pus no útero, credo me deu até nojinho. O príncipe disse que tinha que tirar de dentro de mim esse mal, aí ele falou que eu tinha que dormir naquele reino. Fiquei do lado de um pinscher que quebrou a patinha, e ele falou que ele não sabe como quebrou, sei não, ele tem cara de peralta, não acredito nisso. Do outro lado tem uma gatinha branca com filhotinhos lindos, olha que eu não me dou bem com gatos. Ah, também tem um cachorro que comeu uma planta e ficou doidão, ele grita pra caramba. To com saudade de casa, nem acredito, mas tô até com saudade daquela poodle grude, aquele bicho maluco.Hoje eu fiz minha cirurgia, tô com muito soninho, o príncipe de branco tirou o tal de piometra e o meu câncer de mama,vão esperar eu ficar espertinha e fazer um xixi básico para poder voltar pra casa. Tenho curiosidade em saber quem são fé e esperança, devem ser pessoas legais, pois o menino de óculos sempre lembra delas.
Só que o depois da minha cirurgia me senti tão fraquinha, com dor, tô muito cansadinha. Vivi 12 anos, o6 meses e 12 dias, fui amada e amei, fui cuidada e cuidei, fui feliz e fiz feliz o menino de óculos, a menina de cachinhos e a menina bonita sem covinhas. Quando começou a surgir os primeiros raios de sol do dia 19 de maio de 2010, eu rompi o casulo de dor e sofrimento e como uma linda borboleta alcei voo rumo ao céu, podia sentir o calor do sol e o vento deliciosa que passava por mim, já não há dor.

2 comentários:

  1. Esse texto é um dos mais bonitos e tristes que já li.

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  2. eu gostei de como ele passa a maneira deles ver as coisas

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